TPM: Assunto a ser conversado
- Por Bruna Gomes
- 25 de nov. de 2016
- 7 min de leitura
A adolescência é a fase de descoberta dos jovens. Fase em que o corpo muda, mas não só ele, como também o modo de agir, pensar e se comportar. Essa mudança começa na puberdade, mais conhecida como o período de desenvolvimento sexual do menino e da menina.
As transformações do corpo da menina são bem notáveis como o crescimento das mamas, aparecimento dos pelos pubianos (vagina), desenvolvimento do tamanho do corpo, surgimento de acne (espinhas) por causa do aumento dos hormônios, alargamento do quadril e a menstruação.
Com a chegada da menstruação vem também sua aliada: a TPM.
Segundo a ginecologista, Michele Galvão, durante a TPM podem ocorrer mudanças físicas como: dor nas pernas, dor de cabeça, inchaço (aumento de peso), cólicas, diarreia, enjoo, espinhas, entre outros fatores. As mudanças psicológicas mais comuns são: irritação, estresse, impaciência, choro, depressão, ansiedade, insônia, fome em excesso ou a falta dela, sonolência, dificuldade de concentração, cansaço, vontade de comer doces etc. “Isso varia muito de menina para menina. Esses são alguns sintomas, tem meninas que sentem quase todos eles e tem outras que não sentem nenhum”, fala.
Michele comenta que a intensidade e o número de sintomas aumentam de acordo com a rotina de cada jovem. “Se ela tem um mês tranquilo, ela pode sentir poucos sintomas ou até nenhum, mas se o mês seguinte for cheio de problemas e tensões como provas, brigas de relacionamento, a chance de ter a manifestação de mais sintomas é bem comum.”
Em uma pesquisa realizada com trinta meninas sobre o nível de estresse na TPM, os gráficos mostram que existe uma variação entre eles. “Isso é normal nas mulheres, o estresse é causado pela alteração hormonal que está preparando o corpo para a menstruação, mas quando isso se mistura ao dia-a-dia termina se tornando desgastante”, relata a ginecologista Michele.

Alguns sites como Capricho, Always e escritoras e/ou blogueiras como Thalita Rebouças e Bruna Vieira, abordam esse tipo de temática. São sites que tem uma abordagem geral do tema, mostrando o que é a TPM, quais as dificuldades que as meninas enfrentam, dicas de como diminuir os sintomas etc.
As redes sociais estão recheadas de matérias com dicas como o tipo de alimentação que é recomendado evitar nessa época: comidas gordurosas, açúcar, cafeína, cigarros, bebidas alcoólicas, refrigerantes. Sugerem uma dieta baseada em fibras e carboidratos, além da prática de exercício físico e ambientes calmos. Mas o questionamento é: por que esses sites que estão na rede para ajudar não estão ajudando? Por que muitas meninas ainda têm tantas dúvidas sobre um assunto tão “comum”?
Rosângela Medeiros, 14 anos, ouvia muitas mulheres falando sobre esse tema, mas seu grande questionamento era o que causava isso nelas e por que aconteciam essas mudanças. “Ouvia minhas primas mais velhas comentando que num mês elas estavam bem calmas, outros nem tanto, mas eu não entendi o que causava isso”, comenta.
Karinne Issis, 20 anos, foi orientada pela avó e pela mãe, mas suas dúvidas eram se realmente existia TPM. Ela acreditava que isso era algo psicológico da mulher e que era controlável. “Eu sabia apenas o que o povo falava, na verdade achava que era lenda, pensava que era apenas psicológico e que não era relacionado a hormônios. Sabia que a mulher ficava diferente, mas não sabia o que realmente era. Até que fui conversar com minha mãe e minha avó e elas me explicaram. Só vim entender realmente quando comecei a sentir”, diz.
Beatriz Silva, 15 anos, teve uma orientação familiar sobre esse assunto. Assim que sua adolescência estava se iniciando, sua mãe e sua madrinha começaram a conversar sobre as mudanças que iriam ocorrer no seu corpo. “Elas me explicaram tudo que ia acontecer, até porque já estava sentindo algumas cólicas e mudanças de humor repentinas. Tinha hora que estava feliz e do nada ficava triste, e depois voltava a ficar feliz. Eu não entendia isso direito até que elas me explicaram que isso seria normal.”
Os sites abordam dicas para tentar ajudar as meninas a como lidar com esses momentos, mas nem sempre funciona. “Na verdade já pesquisei muito em sites, mas não muda nada. Surgem ainda mais perguntas sobre o assunto e os sintomas da minha TPM não diminuem, já tentei vários sites diferentes e nada”, comenta Rosângela.
Débora Quirino, 17 anos, mora com a avó e não gosta muito de conversar sobre isso com suas amigas. Sua grande aliada para tirar dúvidas é a internet. “Eu pesquiso muito já que não tenho o habito de conversar com ninguém sobre esse assunto. Já segui vários sites que davam dicas de dietas, exercícios, entrei na vibe positiva e sinceramente não adiantou muito não (risos). O que deu certo um pouquinho foram os exercícios físicos, mas depende muito de como foi o mês”, fala.
A ginecologista, Carla Gomes, diz que a prática de exercícios ajuda não apenas com a diminuição da TPM como também melhora a saúde. “Os exercícios são ótimos para evitar a TPM porque com a prática dessas atividades o corpo gera um aumento do metabolismo, melhorando o funcionamento dos órgãos vitais e isso, tecnicamente, ajuda na diminuição de alguns sintomas como inchaço, dor nas pernas, cólicas, dor de cabeça e distúrbios alimentares”.
Uma pesquisa foi realizada com trinta meninas entre 13 a 25 anos mostrando que das 30 jovens, 19 praticam exercícios físicos e 11 não praticam nenhuma atividade. Esses dados demonstram que as mulheres estão cuidando mais da saúde. “Exercício físico é bom independente de qualquer coisa. Faz bem à saúde”, ressalta a ginecologista Carla.

A TPM é causada pela alteração hormonal que interfere no sistema nervoso central. Durante um tempo médio de 28 dias a mulher prepara o corpo para uma possível gestação. Nos primeiros 14 dias após o primeiro dia de menstruação, a menina entra no período fértil, ou seja, é o período que se tem a maior chance de engravidar, com isso aumenta o nível do hormônio estrógeno, responsável por controlar o bem-estar.
Depois desse período, o nível de estrógeno começa a diminuir e a progesterona (hormônio que prepara a gravidez) começa a agir para a fecundação. Quando esse aumento e diminuição são bruscos podem ocorrer os sintomas. “Dessa forma, a TPM é caracterizada por todos esses sintomas que podem ocorrer antes e durante a menstruação, causados pela queda brusca dos níveis de hormônios”, diz a ginecologista Michele.
Isso acontece porque cada menina tem suas dúvidas e porque o funcionamento de cada corpo reage de forma diferente. São dicas que podem ajudar ou não. A melhor maneira de ajudar é a conversa com os pais ou com especialistas. “Cada menina tem metabolismo diferente, por isso as dicas nem sempre dão certo. Cada uma precisa de um cuidado específico para o melhor funcionamento do corpo. Os sites dão dicas gerais, mas vai muito além disso, é preciso também trabalhar com o psicológico e o corpo”, fala a ginecologista Carla.
Segundo a psicóloga, Adriana Miranda, a conversa com os pais é fundamental, pois é uma nova fase na vida da menina, com mudanças e descobertas sobre a saúde corporal. Nada melhor que conversar com a mãe sobre suas dúvidas, pois é através desse diálogo que se constrói uma amizade. “É essencial esse relacionamento de pais e filhos, na maioria da vezes é através da mãe que a menina recebe orientações, mas o pai deve participar desse construção também. São grandes mudanças e novas descobertas”, relata.
Edjane Silva e João Leal, pais de Beatriz Silva, comentam o que o diálogo é bem aberto dentro de casa e que deixam a filha à vontade para perguntar e comentar sobre esse assunto. “Aqui em casa, Beatriz é bem livre para tirar as dúvidas, estou sempre aqui pra ajuda-la, assim como faço questão que o pai dela acompanhe de perto esse desenvolvimento, pois esse diálogo é bom para garantir a confiança dela”, diz Edjane.
“Não só eu, como minha esposa, fazemos questão de acompanhar esse desenvolvimento. É uma fase que vejo minha filha crescer e se tornar uma mulher. Quero estar sempre perto dela, e ela sabe que podemos conversar sobre qualquer assunto a todo o momento, pois prefiro tirar as dúvidas dela do que deixar ela ficar conversando com as amigas na escola, que também têm dúvidas, ou seja, elas não saem muito do lugar e acabam errando”, fala João.
Mas, algumas meninas ainda não conversam sobre isso com seus pais por vergonha. Algumas situações acontecem quando a mãe não teve esse tipo de conversa e relacionamento com sua mãe e termina evitando conversar com a filha. “Minha mãe veio do interior e sei que lá não podia tocar nesse assunto, por isso que aqui ela não comenta nada sobre isso. Tentei conversar com ela algumas vezes, mas ela nunca deixou. Minha saída sempre foi conversar com minhas amigas e pesquisar na internet, mas não é a mesma coisa”, relata Rosângela.
Severina Santos, mãe de Rosângela Medeiros, não gosta de tocar no assunto sobre TPM. “Quando era jovem, no interior, não se conversava sobre isso com ninguém. Era algo muito íntimo e até hoje eu não gosto de falar sobre isso. Aqui em casa a gente não conversa, a única coisa que digo é pra minha filha ir ao médico e tirar suas dúvidas com ele”.
Atualmente, os temas TPM e menstruação ainda são tabus na sociedade. As meninas ainda sentem vergonha de conversar e comentar sobre isso em casa e/ou nas escolas. Elas comentam que os meninos brincam com isso, e terminam ficando com vergonha, mesmo sendo algo tão natural. “Eu converso pouco com minhas amigas sobre isso, acho algo muito pessoal e na escola a gente nem toca nesse assunto, porque os meninos ficam rindo e fazendo piadas sobre isso”, diz Beatriz.
É importante tratar esse tema na escola também. Os professores de biologia abordam essa temática superficialmente quando estão falando sobre o sistema reprodutor, no Ensino Fundamental II (6º ao 9º anos ou 5ª a 8ª série), falando das mudanças corporais femininas e masculinas.
“Na época que eu estudava não se falava sobre isso, só se comentava em biologia que a mulher tinha o período da menstruação e que o corpo mudava nesse período, mas não explicava nada. Faria sim uma grande diferença se isso fosse abordado, não só para as meninas, como também para os meninos”, comenta Karinne.
Pela falta de conversa dentro de casa, a escola deveria sugerir palestras que abordem o tema. “Esse temática deveria ser obrigatória na escola, principalmente, no Ensino Fundamental II e no Ensino Médio, para mostrar aos jovens que isso é algo normal, natural do ser humano”, diz a psicóloga Adriana.
Essa temática trabalhada no ambiente escolar seria importante para tirar as dúvidas, principalmente, das meninas que não conseguem conversar em casa.
A dica é: “Procurar o psicólogo da escola, conversar, tirar dúvidas e, caso não seja suficiente, procurar uma ginecologista para que ela explique melhor as mudanças que estão acontecendo”, comenta a psicóloga.
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